Relógio: uma reflexão sobre o tempo e o cotidiano
Relógio é uma canção que, assim como “Terra planta” e “Chacoalha no trem”, explora temas do cotidiano, mas desta vez sob a ótica do tempo e da rotina. A letra nos leva por uma jornada de despertar, tanto literal quanto metafórico, destacando a repetição incessante dos dias e o peso do ciclo diário, marcado pelas obrigações e frustrações.
Na primeira estrofe, o relógio simboliza o início do ciclo, o despertar forçado para um novo dia: “bota o relógio / desperta o negócio / desperta do ócio / e vai duma vez”. O banho, o café da manhã com margarina e bolacha dormida — elementos simples e banais — reforçam a atmosfera de uma vida que já começa com a sensação de cansaço. A repetição do dia a dia é um tema que retorna mais adiante: “mesma melodia / já é outro dia / te acorda bom dia / e tudo outra vez”.
Essa canção, como as outras mencionadas, busca evocar imagens do cotidiano, rotina e tempo em Relógio de uma forma quase crônica, mas, enquanto “Chacoalha no trem” usa o transporte público como metáfora para o fluxo da vida e “Terra planta” se ancora no contato com a natureza, “Relógio” se centra na relação do indivíduo com o tempo. A sensação de impotência diante de um ciclo que se repete indefinidamente é o que dá o tom à música.
A segunda estrofe aprofunda esse sentimento de frustração, com imagens de um trabalho dobrado, sustento quebrado e uma casa sem telhado, mostrando que o esforço constante nem sempre gera resultados positivos: “trabalho dobrado / sustento quebrado / casa sem telhado / choveu outra vez”. As pequenas vitórias e esperanças são frequentemente substituídas por decepções.
Por fim, o refrão, com o questionamento constante: “será assim? será o fim?”, deixa uma ambiguidade no ar, como se questionasse se esse ciclo um dia irá se romper ou se estamos fadados a viver dessa maneira. Essa dúvida existencial é uma marca forte da canção e talvez a parte mais intensa da reflexão sobre o tempo e a rotina.
Assim como nas minhas outras composições, “Relógio” busca capturar a essência do que é ser humano em uma sociedade que nos impõe ritmos muitas vezes exaustivos e alienantes. No entanto, há também uma sutileza de esperança em meio ao caos, um desejo de quebra dessa rotina que, quem sabe, um dia se realize.
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