Terra Planta: Inspirações Urbanas, Florestais e a Reflexão Sobre o Futuro
A música “Terra Planta” é um dos momentos mais significativos do EP “Um Canto do Meu Canto”, formado também por Chacoalha no Trem e Relógio. Ela nasceu de uma série de reflexões sobre a cidade, a natureza, e a tensão entre o passado e o futuro. Escrever essa música foi uma forma de conectar as paisagens que me cercam em Novo Hamburgo, especialmente as lombas da cidade, com questões universais sobre o meio ambiente e a civilização. Cada verso traz uma imagem que traduz essa dualidade entre o urbano e o natural, o concreto e a terra.
Novo Hamburgo e a Influência das Lombas
A cidade de Novo Hamburgo é uma das grandes inspirações para a criação de “Terra Planta”. Suas ladeiras — ou lombas, como chamamos — se tornaram uma metáfora central na música. Novo Hamburgo, em especial o bairro Lomba Grande, sempre me trouxe um contraste interessante entre a cidade e a terra, entre o natural e o que foi moldado pelo homem.
No verso “A Terra planta, a cidade plana não é, a cidade lomba”, eu quis destacar essa paisagem irregular e ao mesmo tempo refletir sobre como as cidades crescem, muitas vezes de maneira desconectada do solo em que estão inseridas. A terra curva e errante simboliza a nossa própria caminhada como sociedade, uma trajetória muitas vezes arbitrária e desordenada.
“A Queda do Céu” e a Reflexão Sobre a Floresta
Outro pilar criativo para essa música foi o livro “A Queda do Céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, que trata da relação dos povos indígenas com a floresta e o cosmos. Isso aparece especialmente no verso “Da Terra brota a floresta, um canto belo e real”, que reflete a ideia de que a terra, quando respeitada, gera vida de maneira orgânica, contrastando com a destruição industrial descrita em outros momentos da letra.
Há também um confronto com a destruição e o impacto da indústria: “A indústria planta sem pé, cidade no sol sem boné”, reforçando essa desconexão entre a cidade e a terra que a sustenta.
“Terra Planta” e a Brincadeira com o Negacionismo
O título “Terra Planta” surgiu de uma inspiração curiosa. Um dia, vi um lambe-lambe colado em um poste em Novo Hamburgo, com a frase “A Terra é Planta”, uma evidente ironia ao crescente negacionismo sobre a forma da Terra. Isso me marcou, e resolvi brincar com essa ideia no refrão, colocando a Terra como uma força ativa, que planta e gera vida, em oposição a essas visões que negam a realidade científica.
A Dualidade Entre Cidade e Natureza
Ao longo da música, a relação entre a cidade e a terra vai se desenrolando como um jogo de forças. A cidade branca e a indústria em chamas são imagens de destruição e opressão, contrastadas pela terra e a floresta, que oferecem uma visão de resistência e renascimento.
A metáfora do calçado aparece como símbolo da nossa conexão — ou desconexão — com o solo. No verso “O calçado tirei no sopé”, há uma tentativa de voltar à simplicidade, de tirar os sapatos e pisar na terra, buscando uma reconexão com o que é real e ancestral.
Conclusão: Terra, Sonho e Presente
“Terra Planta” é uma música que fala sobre a nossa relação com o mundo em que vivemos, com a terra que nos sustenta, e com o futuro que estamos construindo — ou destruindo. O último verso, “Terra, sonho, presente aqui”, aponta para uma esperança de que, mesmo em meio ao caos urbano e às crises ambientais, ainda há um caminho de reconciliação com o planeta, se assim o escolhermos.
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